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A Paisagem dos trajetos cotidianos ou quando a cidade se transforma em paisagem... essa coisa distante.

(Palestra proferida no 3º Seminário de Metodologia da Pesquisa em Artes e em Patrimônio, 1999, Pelotas e publicada nos anais do evento/ v.Único. p.53 - 60). Apostagem deste texto aqui tem como objetivo contextualizar a origem da proposta temática da disciplina de Fotografia I.

A Paisagem dos trajetos cotidianos ou quando a cidade se transforma em paisagem... essa coisa distante.

Teresa Lenzi

Este texto é resultado de uma pesquisa em Poéticas Visuais. Constitui-se na sistematização do conjunto das operações envolvidas em um processo criativo, com vistas à concretização de um projeto artístico.

O elemento motivador desta pesquisa foi a criação do projeto intitulado A Paisagem Fotográfica dos Trajetos Cotidianos, que teve como tema a paisagem urbana de Porto Alegre. Visa promover a reflexão sobre a paisagem urbana contemporânea como experiência particular e coletiva, destacando sua pluralidade e singularidade, sua dinâmica e constante transformação como elementos mediadores do imaginário, da percepção, da sensibilidade, da compreensão, enfim das relações humanas.

O tema foi delimitado pelo meu cotidiano, pelo ir e vir pelas ruas de Porto Alegre (no período de 1997 a 1999). Nesse período fotografei constantemente os locais por onde transitei. Através dessas contínuas tomadas fotográficas surgiu um acervo dinâmico da paisagem que constituiu a matéria-prima do projeto. Esse acervo foi sendo manuseado em forma de projetos especulativos: projetos gráficos e maquetes. A partir desses projetos foram desenvolvidas as análises sobre o entrecruzamento do tema e da matéria fotográfica, com o intuito de encontrar uma resolução plástica para a apresentação do tema enfocado.

As diversas fases dos projetos especulativos foram associadas ao pensamento de diversos autores e a obras de outros artistas plásticos para o exercício de identificação e contextualização da pesquisa em foco.


O contexto do contexto: múltiplas paisagens


¿ Cuál es la historia de las nubes?

¿Cómo, el retrato del viento?

¿Donde quedo el cielo?

Aurelio Asain


A conformação do universo de uma
pesquisa em artes não necessariamente obedece a regras. As indagações que ela produz podem ser de extrema objetividade ou seu contrário.

A malha da qual ela é tecida varia em textura, ritmo, movimentos e isto depende tanto do sujeito que a produz quanto dos caminhos que percorre em função do seu objeto de desejo. No caso deste trabalho muitas questões surgiram e se desdobraram numa performance quase mimética do seu objeto de estudo: a paisagem dinâmica e esvanecente contemporânea.

Para concretizar a apresentação da paisagem em uma forma visual fez-se necessário antes de qualquer outra coisa levar em conta a compreensão que se tinha da paisagem recortada do centro urbano da cidade de Porto Alegre com todos os elementos e conceitos que eram pertinentes a esta compreensão.

Distinguir os elementos estruturais, conceituais e práticos, fundamentais ao trabalho foi necessário porque somente a partir desta distinção seria possível traçar o ponto de entrecruzamento do fazer e pensar, lá... onde nasce o objeto que desejamos.


As noções de paisagem, cotidiano, olhar e fazer fotográfico, neste contexto específico, são fundamentais porque são as matérias desta investigação. A paisagem contemporânea que é elaborada pelo olhar do sujeito e posteriormente traduzida por um fazer fotográfico precisou ser previamente enunciada.

Para revelar o entendimento da cidade contemporânea - em sua “polifônica” conformação - enquanto paisagem, resgatou-se a compreensão da paisagem dominante até o século XVII. Até este período, quando o pensamento iluminista ainda não tinha grande ingerência sobre a sociedade, a paisagem estava associada à natureza como o espaço sobre o qual o homem não tinha executado nenhuma ação transformadora. Era o espaço distante, contrário da intimidade, por vezes assustador dado a sua relação com o divino e o celestial e com o inexplicável.

A paisagem dos homens contemporâneos do séc. XVII por certo se distingue da paisagem do homem urbano atual se consideramos como paisagem àquilo que se pode abranger num golpe de vista.

Ao retomar tal referência histórica, porém, além de enfatizar o fato de que a paisagem é uma invenção cultural e que resulta da aceitação de um enfrentamento da natureza como um lugar impreciso e distante que é necessário delimitar para poder transformar em um lugar que aconchegue o homem ou pelo menos sirva de referência quanto à inefabilidade do espaço e do tempo, quis colocar em destaque a noção de distância.

A cidade contemporânea com suas súbitas e contínuas mudanças, com seu ritmo acelerado, com suas múltiplas utilidades e fazeres se tornou inacessível ao homem que a edifica, que percorre suas ruas, que lhe dá sentido. Ao denominar a cidade como paisagem estou imediatamente fazendo oposição à noção de lugar com um espaço onde o homem possa se sentir integrado e aconchegado.

Até onde nossa vista alcança não vamos encontrar nenhum espaço ou território sobre o qual o homem não tenha agido e/ou violado. Mas estas ações não lhe proporcionaram a segurança, o aconchego necessário a uma vida com qualidade. A partir destas peculiaridades é que elejo o entorno, o espaço urbano, manipulado pela cultura, com toda a parafernália tecnológica e com todo tipo de implicações sensorais, psicológicas e culturais decorrentes, como o substituto da paisagem.

A cidade predominantemente determinada por alguns elementos complicadores, caracteriza-se pela opacidade e distanciamento dada a multiplicidade das informações que ela gera aliadas a profusa mobilidade humana.

Neste sentido, a paisagem opõe-se tanto a um espaço virgem sujeito às variações da natureza quanto à noção de lugar que é em si um lugar “ocupado”. Se o lugar é um espaço ocupado1, uma localidade, como tratar da cidade dessa forma, se as cidades para nós, sujeitos do final do séc. XX, se constituíram num espaço de trânsito, de nomadismos, de circulação excessiva de informações, de multiplicidade de signos?

A cidade como paisagem pode ser em síntese entendida como a denúncia da falta de um lugar concreto e seguro. Já não se trata mais de motivação idealista, como aquelas de homens de outros tempos, ou de estranhamentos filosóficos ou religiosos. Trata-se agora da falta de identificações, da inapalpibilidade, da ausência de referências estáveis e também da confirmação da veloz e inapreensível transformação de valores e significados.

Isso tudo indica distância, não exatamente física, mas memorial, afetiva, que cria hiatos, lacunas. Uma distância entre a paisagem de fato e o olhar que não tem imunidade aos fatores externos, e portanto, recria, deforma, inventa a paisagem e por consequência seu entendimento do mundo.

Sobrever...mais que ver...Olhar

Distinguir visão de olhar na perspectiva deste trabalho é essencial porque é uma forma de enfatizar a importância da paisagem como um fenômeno que transcende a experiência visual, embora este seja mediado pela visão. Aponto assim o olhar como um ato intencional humano e depósito de subjetividades, distinto da visão que é um acontecimento ótico-físico.

A percepção visual dos espaços urbanos é influenciada pelo olhar do sujeito enquanto construção contínua carregada de significados, emoções e recordações pessoais, e se insurge a cada momento, a cada nova situação. No relacionamento que mantemos com a cidade, projetamos sobre os espaços impressões vividas em outros momentos ou ainda associamos com recordações retidas na memória. A cidade se revela através da soma, como uma colcha de retalhos, um lugar misturado 2.

A paisagem é percebida pela soma dos seus elementos visíveis e invisíveis, pelos desejos e ausência dos desejos. O olhar sobre a paisagem não equivale exatamente à paisagem vista.

As cidades, como espaços por onde transitamos, contínua e incessantemente nos invadem, nos atingem e muitas vezes nos escapam. Nossos referenciais são móveis, nossos olhares também. “As transformações mais radicais da nossa percepção estão ligadas ao aumento da velocidade da vida contemporânea, ao aceleramento dos deslocamentos cotidianos, à rapidez com que nosso olhar desfila sobre as coisas (...)”, diz Nelson Brissac Peixoto3.

Cada um de nós estabelece com a cidade uma experiência indescritível e intransferível que pode assumir diferentes formas, como as cidades invisíveis de Ítalo Calvino, sempre tão parecidas, mas infinitamente diferentes. Ao falar da cidade de Tamara, diz o narrador Marco Pólo: “(...) Penetra-se por ruas cheias de placas que pendem das paredes. Os olhos não vêem coisas, mas figuras de coisas que significam outras coisas (...)”4

Ohar no (e sobre o) cotidiano

O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo.
Manuel de Barros

Distinguir a compreensão do cotidiano, neste contexto, intenta enfatizar o entrecruzamento neste trabalho, das posturas rotineiras e mesmo passivas que mantemos em nossa vida, com o contraponto que muitas vezes criamos com atitudes de ruptura e negação da passividade diante dos fatos. Nesta perspectiva incluo o projeto desenvolvido: se por um lado admito o cotidiano como uma prática rotineira, institucionalizada em nome do progresso e da sobrevivência, por outro lado reajo e transformo isto em tema passível de reflexão, de denúncia, de investigação, de poesia e imaginação. Dou continuidade a uma preocupação histórica mas ainda contemporânea: o lugar do homem, a atitude do homem. Charles Baudelaire, Walter Benjamim e James Joyce na literatura enfrentaram tais questões em outros tempos. Nas artes visuais inúmeros serão os exemplos contemporâneos: Joseph Beuys, Sophie Calle, Christian Boltanski, Friedl Kubelka-Bondi, Rubem Mano, Arnaldo Antunes e outros.

Enfoco o cotidiano numa perspectiva ainda otimista como a que nos oferece Michel de Certeau. Para Certeau “o homem ordinário”, alienado às repetições do dia-a-dia, é criador, inventa constantemente o cotidiano “graças as artes de fazer”. Subverte caminhos, cria atalhos, inventa novos usos para as coisas e objetos, revelando que não é tão passivo e dócil. O cotidiano, diz ainda Certeau, “se inventa de mil maneiras de caça não autorizada”.5


Olhar o cotidiano e a paisagem e (porque) fotografar

Tensada por la posibilidad de su repetición infinita, la fotografia sólo comparece para atraer al espacio de la representacion el parecer evanescente e irregulable de la diferencia pura. La fotografia no “re-presenta”, tan sólo acontece.
Jose Luis Brea

Ao fotografar diária e constantemente os percursos rotineiros eu revelava um objetivo inatingível. Deter, fixar ou mesmo tentar dar concretude `aquilo que não tem permanência.

Juntar fotografias, reunir fragmentos faz sentido se leva em conta que a experiência que temos cotidianamente com a cidade é marcada pela descontinuidade, por sucessivos cortes, por constantes recomeços. É uma alternativa de enfrentamento do devir como elemento essencial da própria vida. Ao agir assim, assumi a postura de um cartógrafo, no dizer de Suely Rolnik, um cartógrafo sentimental, que, ao invés de elaborar mapas estáticos, elabora

(...) um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformação da paisagem. (...) A cartografia, nesse caso, acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamento de certos mundos - sua perda de sentido - e a formação de outros: mundos que se criam para expressar afetos contemporâneos, em relação aos quais os universos vigentes tornam-se obsoletos6.

Iconicidade, indicialidade, capacidade de transformar sentidos, são qualidades indiscutíveis da matéria fotográfica e que em geral co-habitam o objeto que dela decorre. Muitas avaliações são possíveis neste universo mas quero distinguir o valor e o lugar desta prática aqui nesse trabalho. De imediato o que é revelado é um desejo explícito de reter informações, registrar mesmo que de forma parcial o ritmo dos acontecimentos, tentando criar, a partir do ato fotográfico, um mecanismo voraz, que impeça a dispersão dos fatos. Há portanto, um indício de descrença da capacidade mnemônica diante da velocidade e do transitório.

Comentando sobre a natureza e os motivos que levam um artista a agir a partir de registros fotográficos sistemáticos, diz Joan Fontcuberta: “Fotografamos (...). Para afirmar aquilo que nos dá prazer, para cobrir ausências, para deter o tempo e, ao menos ilusóriamente, adiar a inevitabilidade da morte. Fotografamos para preservar a nossa mitologia pessoal”.7

Uma paisagem mapeada...


F

Fotografar é também estabelecer um lugar como seu. Cada imagem é uma referência num mapa que o explorador vai aos poucos traçando, um componente a mais no seu quadro imaginário.
Nelson Brissac Peixoto

A metodologia deste trabalho contou com uma análise retrospectiva de trabalhos desenvolvidos em outros momentos, uma revisão conceitual do tema e da prática fotográfica sistemática. Todos estes elementos constituíram a estrutura desta investigação. Quero agora enfatizar os desdobramentos da prática fotográfica especificamente, sua conformação e direcionamento ao trabalho final.

O acervo fotográfico, matéria-prima deste trabalho, manipulado, multiplicado, além dos indícios da paisagem urbana, conserva os indícios do meu fazer contínuo, desdobrado, reconfigurado. Contém dados essenciais indispensáveis para o entendimento que estabeleci com a cidade, no período dessa pesquisa. Esse acervo, como foi dito inicialmente, foi objeto de especulação e deu origem a cinco projetos. Cada projeto elaborado (em forma de maquetes e projetos gráficos) funcionou como subsídio da criação. Avaliava cada resultado e à medida que neles não encontrava o resultado desejado redimensionava o projeto. Esta seqüência de projetos associados à prática fotográfica regular resultou numa escritura também irregular que somente estancou no momento em que me deparei com a proposição que considerei reunir os elementos e as qualidades capaz de apresentar o somatório dos desejos e das intenções deste projeto, aqui neste texto revelados de forma sumária.

Relembrando os questionamentos que motivaram a opção pelo tema aqui enfocado: o que é a cidade para nós que a habitamos? Que forma atribuímos a ela em nossa imaginação Como ela nos conforma? Como apresentar este repertório de imagens?

O “último projeto”, ou o “último percurso” fotográfico que desenvolvi e que poderia muito bem ser denominado “estado transitivo”, contempla este conjunto de indagações. Trata-se da delimitação de um espaço ao qual só temos acesso através de uma abertura (porta), portanto um espaço fechado, agora um lugar mais seguro. Nesse lugar as fotografias (pertencentes àquele acervo fotográfico já comentado) são dispostas em seqüência repetidas seis vezes de cada imagem. A repetição de cada imagem, neste caso, é uma evocação a pausa, tão rara em nossa rotina diária. O lugar é claro, favorecendo a nitidez, a definição, a tranqüilidade. A repetição de uma mesma tomada fotográfica tem duplo sentido: aponta tanto para a relação mecânica que estabelecemos com a cidade e que pasteuriza nosso “olhar”, quanto cria a condição desejada e já enunciada de pausa. Criar um antídoto com seu próprio veneno. Revela, portanto, desejo de organizar o vivido através de uma forma visível.

Esta proposição apresenta um conjunto de trajetos imaginários, referenciados em trajetos reais, e enfatiza o deslocamento através da horizontalidade das seqüências fotográficas. Em nosso itinerário rotineiro quantas vezes dirigimos nossos olhos em direção ao céu?

A soma destes trajetos é um mapa inacabado que solicita a continuidade...É um registro sismográfico pessoal, que se encontra amparado nas impressões da cidade enquanto experiência de dispersão, desagregação das especificidades e singularidades, conseqüências da sucessão e sobreposição de acontecimentos. Embora se constitua de singularidades a paisagem urbana se revela predominantemente plural.

A soma dos trajetos é ampla, aberta, marcada pela disposição deles no espaço que indica o ritmo das híbridas noções vivenciadas de espaço-tempo na cidade. Em geral, dada à simultaneidade e velocidade dos acontecimentos, nossa relação com o espaço é percebida como elemento temporal. A forma como foram afixadas estas fotografias através de alfinetes, expressa e reforça a idéia de um espaço propício e sujeito a alterações e inclusão de novos arranjos fotográficos. Devem confirmar a circunscrição temporária...Não creio ser possível apresentar de uma forma definitiva a paisagem.

Ao criar este projeto, uma espécie de colcha de retalhos, um mosaico de natureza simples - me satisfaço, ao reconhecer neles a confirmação de uma experiência contínua, acumulativa, retroativa e simultaneamente em devir.

1 . CUNHA, 1991.

2 . Estas expressões foram utilizadas por Massimo Canevacci em um estudo sobre a compreensão da comunicação nas grandes metrópoles.

3. PEIXOTO, 1996, p. 179.

4. CALVINO, 1990, p. 17.

5.CERTEAU, 1994, p. 38.

6 . ROLNIK, 1989, p. 5.

7 . FONTCUBERTA, 1996, p. 12.